(Entrevista publicada previamente en GalizaLivre.org)
Informático, colaborador de meios comunitários e activista, Manuel Casal Lodeiro centra as suas preocupaçons militantes na crise energética e adverte do iminente crise do petróleo. Desde o seu web vésperadenada, repassa pontualmente todas as notícias que apontam ao devalar do nosso modelo social. Casdeiro falou longamente com galizalivre do movimento decrescentista e respostou algumha das críticas mais duras que se lhe formulam desde a esquerda.
Poderias dar-nos uns apontamentos da tua trajectória biográfica e militante?
Nascim no ano 1970, na emigraçom. O meu activismo surgiu em paralelo ao meu desenvolvimento profissional como informático, achando que a internet era umha ferramenta óptima para certas luitas, como a do pangaleguismo e a recuperaçom da nossa cultura e identidade na Diáspora, o que tencionei pôr em prática com a comunidade virtual ‘Filhos de Galiza’. Depois fôrom cobrando crescente importáncia para mim as questons políticas, nas que pensei achegar algumha cousa criando um anti-partido pola Democracia Directa Electrónica chamado ‘D3’. Desde que rematei na universidade considerava-me um ‘downshifter’, um seguidor da vida simples que fugia quanto possível da cadeia trabalho-consumo-trabalho. Depois achei no Decrescimento a continuaçom política dessa postura ética pessoal.
Como começam as tuas inquedanças sobre o pico do petróleo e a crise ambiental? Devem-se a certas leituras ou a experiências directas de activismo?
Nom, o do ‘peak oil’ foi umha descoberta como podia ter feito qualquer com certa sensibilidade escuitando a Rádio Galega na primavera de 2008. Escuitei um dia citar a Agência Internacional da Energia prevendo que em sete anos a oferta de petróleo deixaria de cobrir a procura, como umha notícia quase sem importáncia, penso que nom lhe dedicárom nem um minuto à questom no informativo. Porém, eu fiquei preocupado: parecia-me que por trás daquilo havia algumha cousa mui grave e dum alcanço imprevisível. Assi foi que pescudei pola internet e descobrim a questom do teito do petróleo, que alguns activistas e científicos já levavam anos a denunciar.
Poderias-nos dizer quais som, ao teu juízo, os principais traços desta crise civilizatória na que nos adentramos?
É complicado mas tentarei-no. A crise caracteriza-se pola perda da base energética dessa gigantesca máquina termodinámica que é o sistema económico e financeiro mundial. Nom é que fiquemos da noite para a manhá sem petróleo, mas este é tam vital para o mantimento das estruturas dos países industrializados, que sem termos um fornecimento sempre crescente dele nom é possível o medre económico. É evidente que dum recurso limitado nom podemos ter cantidades sempre maiores: chega um ponto em que acadam o seu teito e a partir daí a extracçom (que nom ‘produçom’) cai dumha maneira mais ou menos abrupta. O problema nom som as reservas totais que existirem, senom o fluxo dessa energia que entra no sistema. Estamos no mesmo ponto em que se topárom muitas outras civilizaçons anteriores à nossa: o problema dos rendimentos marginais decrescentes. Disponhemos cada vez de menos petróleo, e cada vez é mais custoso de produzir (energética e monetariamente). E os que estudam seriamente a questom demonstram que as energias renováveis nom podem substituir esta matéria única nem em tempo, nem em escala nem nas áreas vitais do transporte, a agricultura e os petroquímicos. As provas de estarmos neste ponto da história temo-las por toda parte, apenas cumpre unir os pontos e entender as nossas sociedades e economias como um sistema complexo dinámico que precisa dum nível concreto de energia para manter o seu nível de complexidade numha luita permanente contra a degradaçom entrópica. Os economistas ecológicos explicam-no mui bem: todo se resume a umha questom termodinámica, ou ecológica se quigeres: estamos a nos comportar mesmamente igual que as levaduras dentro dumha garrafa de mosto. E podemos doadamente rematarmos igual do que elas: morrendo em massa por termos esgotado o recurso finito do que figemos depender a nossa explossom demográfica. Sem petróleo a espécie humana nunca passou dos mil milhons de pessoas, e agora imos caminho dos sete mil milhons! Que vai passar assi que esse recurso que fijo possível a explossom demográfica desapareça? Fica claro que em poucas décadas teremos que volver a cifras muito mais sostíveis: como? O mais provável é que seja mediante guerras, fomes, doenças…os jinetes da apocalipse nom som senom um fenómeno comum da ecologia social humana.
Quiçá haveria que distinguir as posiçons de dous campos sociais face esta questom: a populaçom em geral, e as minorias organizadas e militantes. Como pensas que reagem ambas -se é que reagem- ante a crise energética e o desafio do colapso?
Nom agem porque nom som conscientes do que acontece. Se a informaçom vital sobre o funcionamento do sistema nom flui nele, o sistema tende ao colapso. E quando alguns vam abrindo os olhos passam polas conhecidas fases psicológicas ante o trauma: negaçom, ira, negociaçom, depressom e aceitaçom. Isto tem o perigo de as populaçons serem manipuladas por certos grupos de poder conscientes da realidade ou nom, que o quigerem aproveitar em cada momento ao seu favor. Há pequenos gromos dumha mudança de modelo, da revoluçom antropológica precisa, como podem ser as Transition Towns ou o movimento polo Decrescimento, e nom há dúvida de que deverám ser o referente que faga mover a sociedade em última instáncia, se é que vai seguir a haver algum tipo de sociedade e nom rematamos num ‘pescoço de garrafa evolutivo’, quer dizer, na quase-extinçom como espécie. As sociedades mexem-se em certa maneira como as amebas, deslocando primeiro umha das suas margens, e logo o resto do corpo segue nessa direcçom. Por isso penso que agora mesmo é vital darmos-lhe pulo a toda essa classe de iniciativas que habitam nas margens da sociedade de massas, em paralelo à maior conscienciaçom social que pudermos fazer, para evitarmos que a gente for enganada. Esta situaçom nom é algo doado de entender e encaixar dentro do modelo mental do mundo que nos inculcárom durante as passadas décadas ou séculos, quase diria eu, dum progresso perpétuo e das possibilidades mágicas da tecnologia e da inventiva humana, quando nom de cega confiança mitológica na mao do mercado capitalista que todo o resolve, mas que é incapaz de prever o esgotamento dum recurso imprescindível e insustituível.
Que opinas do movimento polo decrescimento e que juízo che merecem os seus críticos de esquerdas, que o acusam de ser escapista e de nom plantejar-se a tomada do poder entre os seus alvos?
O decrescimento é inevitável, há que partir disso: a menos energia disponhível, nom há crescimento e as economias contraem-se, quando nom colapsam até níveis mais baixos de complexidade estrutural. A única dúvida é se decresceremos de maneira anticipada (já o seria escassamente) e planificada, como propomos os decrescentistas, ou bem se deixa à lei dum mercado capitalista em caótica descomposiçom. Já que logo a crítica nom pode basear-se no diagnóstico da situaçom, senom em todo caso na estratégia ou na táctica. Quem critica o decrescimento como opçom política e social que é o que propom como alternativa: o ecofascismo? Ou o tecnoutopismo que nega ‘a maior’ e tem fe em podermos seguir crescendo até o infinito? Os que dizem que é um movimento ‘de classes médias’ penso que nom tenhem um contexto histórico abondo amplo: eu nom conheço gente mais coerentemente decrescentista -mália nom se alcumarem a si mesmos deste jeito- que a gente velha da aldeia, com umha filosofia da contençom, da suficiência, da reutilizaçom, dos ciclos ecológicos, da poupança, da vida simples…umha filosofia que se vinha transmitindo de geraçom em geraçom ao longo da história humana e que a mercadotécnia moderna e um ilusório ‘bem estar’ desfixérom por completo a partir dos anos 50 e 60. Agora quem pretende viver assi é um ‘tolo’, ou um ‘escapista’, ou dizem-che que queres voltar ‘aos tempos da fome’ ou à ‘Idade Média’. Quem quiger continuar na espera da tomada do poder ‘por cima’, que aguarde sentado debatendo sobre a ‘vanguarda do proletariado’, enquanto as sociedades industriais entram em descomposiçom, as factorias fecham e o supermercados ficam sem mercadorias. Namentres, alguns estamo-nos a tentar libertar ‘por baixo’, simplesmente rejeitando as subtis imposiçons consumistas capitalistas. A verdadeira ‘tomada do poder’ num contexto de colapso civilizatório deve de ser a construçom de alternativas, de contrapoderes colectivos que estiverem operativos quando deixe de ser viável a alternativa estatal-capitalista. Em realidade ao retomarmos o poder da modesta suficiência colectiva labrega que o capitalismo industrialista lhe trocou aos nossos pais e avôs por um bem estar urbano que, como o ouro dos mouros, está a virar em merda ao rematar o sonho da abundáncia fóssil.
Afundando na crítica antes dita: como é possível somar a esse carro decrescentista, com todo o que isso supom de ruptura com hábitos de vida, a essa populaçom trabalhadora urbana que depende para a sua sobrevivência do uso do carro individual, dos trabalhos nocivos, das hipotecas bancárias? Vê-lo realista?
É realista, claro que o é. Ainda que tremendamente difícil porque o sistema económico soubo encadear-nos com essas questons das que nom somos nem conscientes. Se nom ves as tuas cadeias, como vas rachar com ellas? O bom desta situaçom é que cada vez vam ser mais visíveis: manter as ilussons em que se baseia este jeito de vida urbanita custam energia demais, e quando esta deixe de fluir e for derivada aos derradeiros elementos numha inútil tentativa de salvar as estruturas, estas massas vam ficar abandonadas. Estamo-lo a ver em certa maneira nos países árabes, nom nos damos de conta que nom estamos tam longe de protagonizar umha situaçom semelhante. Os urbanitas devemos botar um olho ao que temos acarom: as aldeias. Som lugares onde a vida pode ser mesmo muito melhor que nas cidades, claro que com renúncias. Pessoalmente acho que temos muito que ganhar ao retornarmos ao campo. O mau é que de nom fazermo-lo aginha, o poder irá deixando-nos sem opçons, favorecendo umha desertizaçom acelerada, umha imposiçom de medidas dignas dos derradeiros emperadores romanos, como o canon da auga…além de a situaçom pessoal dos mais ir a pior: provável hiperinflaçom, crescente desemprego, curte das liberdades…por isso quanto mais tardarmos em trocar de vida mais difícil vai ser para todos. Assi que se formos conscientes de a relaçom urbanitas/produtores de alimentos vai ter inevitavelmente que inverter-se quando deixe de chegar petróleo barato a cachom; se aceitarmos que podemos viver decentemente com muito menos; se reconhecermos que é possível viver sem trabalhar (entendendo o trabalho como actividade assalariada a tempo completo); se aprendermos como viviam os nossos avôs e o melhoramos com o conhecimento que temos hoje em dia de agroecologia, de permacultura, de tecnologias simples, etc. Se nos decatarmos de que quanto mais demorarmos, faremos a transiçom em piores circunstáncias… daquela veremos que a opçom rural vira cada vez mais atractiva. Som da opiniom de que a Galiza precisa com urgência um movimento jovem de retorno ao campo, com umha forte consciência política de alternativa ao capitalismo adoecido.
Pensas que é possível um encontro entre a recuperaçom da ‘vida local’ e rural e um novo pulo da nossa sobrevivência como naçom galega?
Nom só é possível: acho que é imprescindível. Por isso falo de que é preciso artelharmos um movimento que integrar todos esses factores para pô-los em prática como critérios para umha volta auto-organizada ao rural. Se consolidarmos estruturas resilientes no rural, teremos muitas possibilidades de sobrevivermos como país, porque será aí onde se jogue o nosso futuro, nom numhas cidades que sem energia barata se descobrirám terrivelmente sobrepovoadas e inestáveis. A estrutura idónea viraria sobre umhas vilas como núcleo de bisbarras quase autosuficientes, e dúzias de paróquias satélite. É dizer, a estrutura que nos funcionou como povo durante os últimos mil anos. O do petróleo será umha excepçom na história da humanidade e do povo galego, e nom ficará outra que volver a retomar estruturas muito mais acaídas aos recursos desta terra. Além disso nom podemos perder de vista que se nom aproveitarmos os recursos renováveis da nossa terra, tomando possessom deles dumha maneira firme, decidida e antecipada, virám de fora outros que nom vam duvidar em fazê-lo: forem poderes expoliadores de zonas menos favorecidas pola natureza, forem imigrantes post-industriais dessas ou doutras zonas. Isto em certa maneira já leva anos a acontecer, mas nom o víamos dumha óptica energética social. No expólio dos recursos do país nom só nos vai a riqueza, senom a própria sobrevivência física de milhares de galegos e galegas nas vindouras décadas: a soberania mais importante é a energético-alimentar.
Passando a estratégias práticas. Que seria para ti o mais importante para encetarmos umha transiçom e quantas décadas temos para este desafio?
Teimo em que umha aposta estratégica nacional pola defesa e repovoaçom do rural seria imprescindível, mas nom aguardando a acadarmos poder na Junta ou neste ou naquele concelho, nom. Há que pô-lo em pé já mesmo e por baixo, tecendo redes entre activistas de dentro e fora das cidades, promovendo que se vaiam trasladando doadamente pessoas mais inquedas das cidades cara o rural. Terám que ficar muitos nas cidades e lá seguirá a haver muitos anos de luitas sociais e políticas, mas precisamos um trasvassamento de forças cara o eido rural, onde se deveria ir construindo umha base activista e de apoio mútuo, cujos alicerces seriam o saber tradicional, as estruturas sociais tradicionais, novos meios de comunicaçom específicos para o rural (imprensa, rádio), e o sindicalismo rural mais radical. Devemos defender a terra, porque é o único que nos vai ficar.
Sobre a questom temporal, dizermos ‘décadas’ semelha projectar os problemas nalgum ponto remoto do futuro, quando o colapso na minha opiniom já começou. A denominada ‘crise financeira’ na realidade foi consequência dos primeiros sintomas do estancamento terminal do petróleo. A ‘crise económica’ e os problemas da dívida nom terám soluçom porque sem energia sempre crescente nom se pode fazer medrar o PIB. Claro que nom no-lo explica assi quase ninguém e continuamos a pensar que é possível o fisicamente impossível. De feito o colapso do sistema financeiro é inevitável e acho que nom tardará muito. De todos jeitos o dinheiro nom é o que mais me preocupa, porque é umha abstracçom tremendamente conveniente para a vida das sociedades actuais, mas nom tam imprescindível como a energia. Chegado um ponto o poder económico mundial pode acordar um sistema monetário totalmente novo, regular de maneira mui diferente os produtos financeiros e a banca e seguir um pouco mais. Mas com a Física nom há reunions do G8 nem Clube Bildenberg que valham. Sem energia abondo nom há comida, nom há saneamento, nom há serviços públicos, nom há sanidade moderna… todo o que conhecemos deixa de funcionar, os aparelhos estatais colapsam e apenas nas aldeias das zonas férteis do planeta ficará umha maneira viável de seguirmos para a frente. Por isso é tam importante que a gente vaia recuperando aginha o contacto com as suas aldeias, preparando a casa dos avôs, aprendendo a cultivar, estabelecendo relaçons com os vizinhos, adquirindo habilidades que forem úteis num mundo postindustrial. Se as taxas de rendimento energético continuam a cair -e nada fai pensar que nom o fagam- e se efectivamente estamos já no teito da extracçom, para 2030 pode que já nom haja praticamente petróleo ao dispor das economias industriais e estaremos a viver numhas sociedades de tipo agrário e local.
(Adaptación ortográfica e corrección lingüística de GalizaLivre.)
[…] « O colapso civilizatório já começou e cumprem respostas urgentes 04 03 2011 […]
[…] Las elecciones generales españolas de 2012 pondrán a prueba el carácter verdaderamente democrático de estas fuerzas, su altura de miras, su valor y generosidad para renunciar a gobernar con sus programas para simplemente devolver la soberanía al pueblo y a partir de ahí jugar con reglas nuevas, reglas limpias y democráticas, para ofrecer sus soluciones políticas en igualdad de condiciones. Reconozco que el cambio de cultura política que implica esta propuesta frentista es enorme, pero también lo son los retos, y el riesgo de catástrofe social y política a que nos enfrentamos si no reaccionamos ante la deriva de nuestras sociedades, que se dirigen al colapso social, ambiental, energético… civilizatorio. […]
[…] As eleccións xerais españolas de 2012 porán a proba o carácter verdadeiramente democrático destas forzas, a súa altura de miras, o seu valor e xenerosidade para renunciar a gobernar cos seus programas para simplemente devolver a soberanía ao pobo e a partir de aí xogar con regras novas, regras limpas e democráticas, para ofertar as súas solucións políticas en igualdade de condicións. Recoñezo que a mudanza de cultura política que implica esta proposta frontista é enorme, mais tamén o son os retos, e o risco de catástrofe social e política a que nos enfrontamos se non reaccionamos ante a deriva das nosas sociedades, que se dirixen ao colapso social, ambiental, enerxético… civilizatorio. […]